Às vezes perco-me dentro de mim
Num labirinto negro e desumano:
Eis o que resta ainda do meu ser.
Todos passaram por isto como eu.
Todos exaustos de não ver a saída,
Mas não há nada que possamos fazer.
Deixo-me apenas caminhar
Às voltas e voltas nos corredores
A rever memórias que achei estarem esquecidas.
É certo que ninguém esquece:
Nem eu dentro de mim
Nem outros dentro de si.
Dentro é não saber olhar para fora.
Dentro é bosque incendiado
Cinzas que nascem de folhas que nascem de cinzas.
Ver é já não imaginar
Crer é já não existir
Chorar é já não haver retorno
Sentir a nossa própria falta
É lembrar outros dentro de nós
Ou algo de nós dentro dos outros.
No centro do lado de dentro
Ninguém consegue lá chegar
Eterno labirinto de almas perdidas
Às vezes perco-me dentro de mim
Ou o mundo se perde dentro de si
Ou tudo se perde depois de tudo se perder.