Querida Julieta,
Escrever é adiar a tristeza. É sentirmo-nos vivos e resumir com palavras o que o olhar não consegue transpôr.
Saber que me escreves passou a ser uma razão de existir. Porque podemos completar pensamentos e abraçar novos versos.
A tua escrita tem o poder de adentrar-se no coração. Cria raízes e cresce como as florestas submersas dentro de nós.
Tudo tem um começo, mas contigo não estou certo disso. Creio que o começo surge sempre em cada hora do que nos rodeia, no latejar de cada instante. Não tenho medo da repetição, meu amor. É sempre começo para mim. É essa a essência da existência humana, o recomeço do começo, tudo o que pode ser feito e ser iniciado em qualquer circunstância de nós mesmos; o grande desafio e a grande prova de que existe a eterna juventude.
Hoje tive um dia luminoso, um dia terno e adorado. Os nossos passeios na cidade inspiram-me nas baladas que vou cantando. Como se todas as ruas se desenhassem no teu rosto. Sem os teus olhos não haveria luz, não haveria o encanto do desconhecido no fundo do fundo dos oceanos.
Anseio cada viagem, cada descoberta contigo.
Teremos sempre um comboio à espera em qualquer estação. Somos a magia de todos os lugares que visitamos, tudo chega e parte de nós.
Não consigo imaginar a vida sem o teu carinho e sem a tua ternura.
Amo-te imensamente.
Do teu António
Ilustração: José Pedro Sobreiro